Nicho ganha espaço com respeito à legislação ambiental, alertas sobre a manutenção e um gosto pelo isolamento para quem tenha espaço no orçamento para desembolsar milhões de reais
Com coqueiros e formações rochosas, a Ilha das Cabras fica a 2,7 quilômetros da praia da Enseada, uma das mais movimentadas do Guarujá (SP), no litoral sul paulista. Tem 45 mil m² e recifes de coral onde é comum encontrar tartarugas ou arraias em mergulhos. O local atrai turistas e moradores. Quase todos ficam surpresos ao descobrir que ela está à venda por R$ 15 milhões. E não é de hoje: é oferecida há uma década. Em maio, a Invest Negócios Imobiliários, em Santos, assumiu a tarefa.
— A autossustentabilidade e a legislação ambiental restringem bastante o número de compradores. É preciso um planejamento para ter água potável e energia elétrica. Estar atento ao quanto é permitido se construir e se a finalidade do projeto está dentro dos parâmetros do Ministério Público, da Marinha e da prefeitura — enumera Edgar de Oliveira, diretor da Invest.
Anunciada em um site por R$ 7 milhões, a Ilha da Cocanha, em Caraguatatuba, traz no nome o ideal de felicidade ininterrupta que atravessou séculos: na Idade Média, acreditava-se que a Cocanha era um país paradisíaco onde todos os desejos eram satisfeitos de graça (houve quem acreditasse que o Brasil seria esta terra, na época do descobrimento). A versão real está à venda no site de duas imobiliárias, e por enquanto é o pequeno paraíso para seus dois moradores, Edemilson Ranulpho, o Alemão de 52 anos, e o seu coelho de estimação, Quequeílson.
Caçadores expulsos
Edemilson chegou na ilha há 23 anos, para trabalhar como caseiro. Em 2006, montou um restaurante na areia cujo carro-chefe é o lambe-lambe, prato com mexilhões frescos. Ele também é responsável pela preservação.
— Se não estivesse aqui, já tinham colocado fogo na ilha. Já vieram caçadores para pegar lagarto e tartaruga e tive que expulsar — diz Alemão, que sonha construir um museu caiçara e desenvolver um projeto ambiental para ajudar na preservação da ilha de onde é fácil avistar golfinhos pela manhã.
A lembrança da colonização portuguesa também é vizinha da Ilha do Magalhães, também conhecida como do Maximiano, em Santa Catarina, a 50 quilômetros de Florianópolis. Ela fica perto da Fortaleza de Santa Cruz do Anhatomirim, erguida em 1740. Parte de um pequeno arquipélago, é banhada pela Baía dos Golfinhos, santuário de animais marinhos e faz parte do portfólio da Private Islands For Sale Worldwide. Com uma casa de madeira de três andares, píer, água tratada e energia elétrica, é oferecida no site por US$ 1,3 milhão (cerca de R$ 6,5 milhões).
A 7 km de Angra dos Reis, a Ilha do Japão tem 25 mil m², com 700 m² ocupados por uma mansão. A casa principal foi construída com madeira trazida da Tailândia ao redor de uma rocha. O espaço conta com uma área externa com piscina e uma jacuzzi de pedra que acomoda até dez pessoas e uma varanda gourmet com churrasqueira. Tem outros três bangalôs, heliporto com capacidade para duas aeronaves e uma praia particular. A propriedade tem sistema de reaproveitamento de água e placas de energia solar, e dois geradores que podem ser acionados em casos de necessidade. E agora está à venda por aproximadamente R$ 50 milhões.
A propriedade é de um empresário canadense que decidiu se desfazer dela por falta de tempo de aproveitar o local com a família. Quem a habita é o caseiro Leandro de Oliveira, de 44 anos, com a mulher e o filho de 8 anos. Leandro conta que a casa é constantemente alugada, com diárias de aproximadamente R$ 25 mil. Segundo ele, o espaço já recebeu os atores Bruna Marquezine e Bruno Gagliasso, o músico Pedro Sampaio, o jogador do Flamengo Thiago Maia e o youtuber Felipe Neto.
— Muita gente brinca que eu tenho o melhor emprego do mundo. Vim para fazer um churrasco e uma caipirinha em uma festa, recebi o convite para ser caseiro e nunca mais saí. Dá trabalho cuidar de tudo, mas consigo aproveitar — comemora Leandro, que está na ilha há sete anos e quer continuar a ser o caseiro quando a propriedade for vendida.
Depois dos R$ 50 milhões, o hipotético novo patrão de Leandro terá de arcar com outros gastos. Manter sete funcionários para limpeza e manutenção, entre eles dois seguranças, custa R$ 30 mil por mês. Há ainda o IPTU de aproximadamente R$ 40 mil por ano e a taxa para a Secretaria do Patrimônio da União, de cerca de R$ 500 mil.
O cirurgião plástico George Otero Nunes, de 75 anos, resolveu passar adiante a Ilha dos Desejos, em Angra dos Reis, depois de a casa de 700m² na propriedade de 6 mil m² se tornar sua residência fixa, durante a pandemia. Mas ele a comprou há 30 anos, pelo desejo de ter sua própria praia e poder praticar mergulho. Ela custou o equivalente a US$ 300 mil na época. Hoje, é anunciada por R$ 15 milhões.
Rotina movimentada
A falta de televisão e computador não significam uma rotina parada na Ilha dos Desejos. Nunes conta que falta tempo para fazer todas as atividades que gostaria.
— Além de mergulhar, escrevo, ando de stand up paddle e de caiaque, e planto. Esse é meu paraíso. Só decidi vender para poder usar o dinheiro para outros projetos, nesse resto de vida que me resta — conta.
Em Goiás, uma ilha fluvial de 8 km em Itumbiara está à venda por R$ 10 milhões. Com 220 mil m², o local ainda não tem construções, com sua mata preservada. De acordo com o corretor de imóveis Welerson Antunes, que publicou em suas redes sociais um anúncio que viralizou na internet, é possível construir um condomínio ou até mesmo um resort. O local, que antes era parte de uma fazenda, está em uma represa construída nos anos 1970.
Fonte: O GLOBO
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