Senador reconhece que o Parlamento de viés conservador impõe derrotas a Lula, mas avalia que a gestão petista já conquistou bons resultados

Porto Velho, RO - Líder do governo no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) admite ter votado a favor da proposta que extingue a chamada "saidinha" de presos "pelas circunstâncias", apesar da orientação contrária do Planalto. 

Randolfe prevê, inclusive, que o tema não deve ser vetado integralmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O senador reconhece ainda que o Congresso de viés conservador impõe derrotas ao petista, mas avalia, por outro lado, que a gestão já conquistou bons resultados.

Veja os principais trechos da entrevista.

A que o senhor atribui a queda de popularidade do governo?

Nós estamos em um ambiente que não são colocados para avaliação os mesmos elementos de outros tempos. Se fossem, as razões nos favoreceriam porque a economia está crescendo a 3%, a taxa de juros está em franca queda, a inflação está sob controle. 

É menos da condição material de existência das pessoas e mais dos aspectos de ordem moral, de ordem ideológica. Tem setores que, desde a campanha, têm uma resistência e qualquer soluço altera a avaliação nesses setores.

Lula tem deixado de dar atenção aos evangélicos?

Não. O presidente não se utiliza da religião. Ele sabe distinguir o que é um púlpito, o que é um palanque.

O senhor é líder do governo e votou a favor do PL da Saidinha, tema que o Planalto orientou contra. O senhor é a favor do projeto ou votou para não desagradar à base?

A gente tem que se orientar pelas circunstâncias. Há uma grande flexibilidade em relação à saída temporária hoje na legislação que tem que ser corrigida.

Então o senhor é contrário a um veto do presidente ao projeto?

Vamos ouvir o Ministério dos Direitos Humanos. Podemos ter algum convencimento contrário. Estive com o ministro (da Justiça, Ricardo) Lewandowski, estendi para ele minha posição. Na minha opinião, não deve haver um veto total.

O ministro chegou a falar sobre algum trecho que gera preocupação?

Ele tem uma preocupação, mas também compreende o clamor e a circunstância do momento. Vamos juntar as posições distintas. Direitos Humanos, Ministério da Justiça e Segurança Pública e dialogar junto com a Casa Civil, com o núcleo político para ensejar uma posição.

Quase a metade dos vetos do governo foi derrubada até agora. A que atribui essas derrotas?

Nós perdemos as eleições para o Congresso e para os governos estaduais. A maioria da população brasileira é governada por governos estaduais que têm uma posição clara de oposição. Dito isso, o que a coordenação política do governo entregou em 2023 deveria ser saudado.

O senhor chegou a cobrar no ano passado que o União Brasil entregasse pelo menos 80% dos votos no Congresso, índice que não foi atingido. Acredita que o governo deveria rever a aliança?

Eu falei antes que 80% era meta alcançável. Não foi possível, mas não temos que reclamar porque a maioria dos votos do partido conquistou, somou e foi fundamental para aprovarmos as medidas econômicas no ano passado que possibilitaram o crescimento econômico que tivemos.

O senhor apoia a intenção do senador Davi Alcolumbre (União-AP) de voltar à presidência do Senado?

A minha posição é a posição do governo. Nós não vamos antecipar o debate sobre a sucessão das Casas. Esse debate tem sensibilidades que afetam a base. Advogamos e trabalharemos para que os próximos presidentes da Câmara e do Senado sejam de partidos da base de apoio ao governo.

E acredita que o governo deve se posicionar quando for o momento?

Dependendo da circunstância, talvez o governo nem necessite se posicionar e talvez nem queira se posicionar. E o presidente fez isso e falou isso já na eleição passada. A posição do presidente externada era a seguinte: não cabe ao presidente da República e ao governo opinar sobre a eleição das Casas. Cabe depois trabalhar com a Câmara ou com o Senado.

Quais são as prioridades do governo no Senado neste semestre?

Leis complementares da reforma tributária, o projeto de lei relativo ao Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos), o projeto de lei relativo à desoneração, os temas da transição ambiental, sobretudo do mercado de carbono e o PL sobre o combustível verde, esses dois em especial que já estão aqui no Senado. Se nós conseguirmos fechar nesses temas, já teremos um avanço substancial.

O senhor não citou a PEC dos militares na relação das prioridades. O governo não vê como prioridade?

Está nas prioridades. Eu não sei se teremos tempo. Houve um pedido da oposição e um pedido de setores da base de apoio ao governo para debater mais, para ter mais audiência pública. Pelo calendário novo que foi proposto (da PEC dos Militares), eu não sei se nós conseguiremos até junho.

Como que o governo vai se posicionar sobre a PEC da reeleição?

Nós temos que refletir mais sobre esse tema. Se é razoável um governo da República fazer tudo que tem que ser feito, executar o seu programa, em quatro anos ou em cinco anos. 

O governo não tem posição firmada sobre o tema, mas eu trago uns apontamentos. Não me parece adequado a unificação da eleição, aumentando o mandato de senadores.

O senhor chegou a anunciar que se filiaria ao PT, o que falta para entrar no partido?

Eu não anunciei, eu disse que o meu partido é o partido de Lula. Isso não foi um anúncio de filiação. 

Eu tenho o maior carinho pelo MDB, tenho o maior carinho pelo senador Renan (Calheiros), agradeço aos convites que foram feitos, mas a circunstância da política do Amapá tornou impossível uma eventual filiação ao MDB. 

Estou muito próximo do PT e do PSB, são duas possibilidades, mas ainda não temos resolvido.

E como está a relação do senhor com a ministra Marina Silva?

A ministra Marina é um luxo para o nosso governo. Nós termos um ícone ambiental do planeta como ministra do Meio Ambiente.


Fonte: O GLOBO