O Nova Iguaçu precisa vender. E Carlinhos, obviamente, quer sair

Porto Velho, RO - Levou 19 minutos para que as diferenças entre Flamengo e Nova Iguaçu se transformassem em gol na final do Estadual, num pênalti cobrado por um dos centroavantes rubro-negros em campo. O outro ainda vestia laranja — Carlinhos foi anunciado como reforço pelo vice de futebol Marcos Braz à beira do gramado do Maracanã, uma hora antes do início da partida. 

O valor, ainda não divulgado, certamente não chegará perto dos 14 milhões de euros pagos à Fiorentina por Pedro. Mas foi o timing da contratação que provocou mais reações: fechar o negócio na véspera de uma decisão seria uma forma de desestabilizar o jogador ou de acuar o adversário?

O Nova Iguaçu é um clube pequeno. De uns tempos para cá, vocês da imprensa inventaram uma cautela com esse termo. Mas não se trata de diminuir ninguém. Um clube é pequeno no tamanho da torcida, e não no amor que seus poucos torcedores sentem por ele; no número e na importância de suas conquistas, e não no empenho ou na vontade de obtê-las; e no dinheiro que arrecada, e não no uso que faz dele. 

Chegar a uma decisão contra o grande, popular, vitorioso e rico Flamengo já foi uma façanha. E vencer seria— já uso na condicional, pela força dos 3 a 0, outro termo que a gente parece ter se sentido obrigado a evitar—zebra.

Todas essas diferenças já entraram em campo no primeiro jogo da final. O Nova Iguaçu cedeu o mando de campo, como fizera com o Vasco, porque não tem uma torcida capaz de encher um estádio; foi buscar no Maracanã um título inédito que para o adversário é banal; e com um elenco cuja folha de pagamento equivale ao salário de um ou outro jogador rubro-negro, como o já citado Pedro, que fez também o segundo gol e a jogada do terceiro, contra. Uma combinação mais do que suficiente para dar ao Flamengo uma vantagem quase impossível de tirar.

Carlinhos, portanto, não precisaria entrar na conta. Sobre o momento de fechar o negócio, o Flamengo pode alegar que enfrentava a concorrência de outros grandes, como Atlético-MG e Vasco, e precisava agir depressa. Além disso, a janela que permitiu a contratação se fecha com o fim dos Estaduais. 

Nesta temporada, já houve pelo menos um caso semelhante: Rômulo enfrentou o Palmeiras, seu futuro clube, na semifinal do Campeonato Paulista, defendendo o Novorizontino. Mas tudo isso é olhar sob o ponto de vista de quem detém o poder financeiro, e todo contrato tem pelo menos duas assinaturas.

O Nova Iguaçu precisa vender. Depois do Estadual, vai disputar a Série D, e qualquer competição nacional exige um nível de investimento que um time pequeno não atinge com seus próprios recursos. E Carlinhos, obviamente, quer sair. 

O depoimento que o jogador deu ao repórter Davi Ferreira, no GLOBO, dá a dimensão humana — tão fácil de esquecer no ambiente competitivo do futebol — à negociação. Aos 27 anos, depois de viver um drama familiar que chegou a interromper sua carreira por um ano, ele vai ter uma chance que pensava ter jogado fora para sempre depois de um início tão promissor quanto irresponsável.

A carruagem do Nova Iguaçu já começou a virar laranja no conto de fadas do Estadual. Mas a vida real continua, com novos desafios para o time e seu quase ex-centroavante.


Fonte: O GLOBO