Deputado do PL foi alvo da Lesa-Pátria, em investigação sobre possível conexão com os ataques de 8 de janeiro, o que serviu de munição para os rivais Rodrigo Neves (PDT) e Talíria Petrone (PSOL)

Pré-candidatos à prefeitura de Niterói, o ex-prefeito Rodrigo Neves (PDT) e a deputada Talíria Petrone (PSOL) ganharam munição esta semana contra um adversário comum. A Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão contra o deputado federal Carlos Jordy (PL), que também se coloca na disputa para comandar o Executivo da cidade, na Região Metropolitana do Rio. O bolsonarista foi alvo de uma ação por suposto envolvimento nos ataques antidemocráticos do 8 de Janeiro, o que ele nega.

Seus opositores, contudo, não demoraram a se manifestar nas redes sociais. Mesmo sem citar Jordy, Neves e Talíra elogiaram a atuação da Polícia Federal em mais uma fase da Operação Lesa Pátria e destacaram a necessidade de investigar pessoas que tenham atentado contra a democracia.

— Quem atenta contra as liberdades democráticas tem que ser responsabilizado. Não cabe na política alguém que desrespeita o povo. Pensando em Niterói, a extrema-direita não tem espaço — disse Talíria ao GLOBO.

O PL, por sua vez, aguarda os desdobramentos das investigações para avaliar eventual desgaste na pré-candidatura de Jordy. Uma ala considera que a Lesa Pátria terá impacto nas pretensões eleitorais do deputado. Já aliados do bolsonarista apostam que o cenário pode ser revertido a favor de Jordy.

Os defensores do segundo cenário afirmam que a Lesa Pátria pôs o nome do deputado em evidência, tornando-o “mais candidato do que nunca”. Outro argumento utilizado por esse bloco é o de que o eleitorado bolsonarista não encara o 8 de Janeiro como crise. Entre os apoiadores de Jordy, crimes de corrupção gerariam um desgaste eleitoral mais significativo.

Esta percepção positiva sobre os impactos da operação da Polícia Federal tem amparo, ao menos, nas redes sociais. Segundo levantamento da consultoria Arquimedes, 67% das 178 mil publicações feitas no X (antigo Twitter) sobre a operação foram favoráveis ao bolsonarista.

— Não tem impacto negativo. Ainda que as pessoas atribuam responsabilidades a Jair Bolsonaro pelo 8 de Janeiro, elas não o culpam. Parte da população, inclusive, apoia o que aconteceu. Atualmente, Jordy se destaca no agrupamento bolsonarista como uma figura relevante, como Nikolas Ferreira e os filhos do ex-presidente — avalia o pesquisador da Arquimedes, Pedro Bruzzi.

Entre os 33% dos posts considerados negativos para Jordy estavam justamente as menções de Talíria e Rodrigo Neves: “Que a justiça seja feita e que os meliantes e golpistas recebam o tratamento que merecem!”, escreveu o pedetista no X (antigo Twitter).

Acordo no PDT

No mesmo dia em que Jordy virou assunto nacional, o PDT oficializou o nome de Neves como pré-candidato a prefeito de Niterói. O atual ocupante do cargo, Axel Grael (PDT), que o sucedeu, poderia tentar a reeleição, mas houve um acordo entre os dois. Atualmente, Neves é secretário-executivo do gabinete do prefeito. Axel deve tentar uma vaga de deputado federal em 2026.

Talíria, além de atacar Jordy, também criticou a pré-candidatura de Rodrigo Neves, que classificou como uma “estagnação”. Desde a redemocratização, Niterói tem sido governada, alternadamente, por PT e PDT. Apesar de a cidade sempre ter tido prefeitos de esquerda, em 2022 a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro desaguou em uma eleição presidencial apertada. O petista vencendo no município com 51% dos votos válidos, menos de três pontos percentuais de diferença em relação ao ex-presidente.


Fonte: O GLOBO