Presidente ucraniano viajou à cidade de Granada, no sul da Espanha, para participar de uma cúpula europeia com o objetivo de fortalecer a cooperação em todo o continente

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky expressou preocupação nesta quinta-feira com o fato de que o "difícil" período eleitoral nos Estados Unidos poderia prejudicar a ajuda de Washington à Kiev em meio à invasão russa, em curso desde fevereiro de 2022. Ele viajou à cidade de Granada, no sul da Espanha, para participar de uma cúpula europeia com o objetivo de fortalecer a cooperação em todo o continente.

— Período eleitoral difícil nos Estados Unidos. Há vozes discordantes. Algumas delas são muito perigosas — disse Zelensky ao chegar à cúpula da Comunidade Política Europeia, quando perguntado por repórteres se estava preocupado com uma possível redução da ajuda militar dos EUA. — Acho que é tarde demais para nos preocuparmos. Acho que temos que trabalhar nisso.

O comentário foi feito um dia após o presidente dos EUA, Joe Biden, também expressar preocupação de que a recente turbulência política no Congresso americano possa interromper o fluxo de ajuda de Washington à Ucrânia.

Uma terrível luta pelo poder dentro do Partido Republicano deixou a Câmara sem liderança na terça-feira, paralisando seus trabalhos legislativos pelo menos até a próxima semana.

— Isso me preocupa — disse Biden a repórteres na quarta-feira, quando questionado se estava preocupado com a possibilidade de os Estados Unidos não cumprirem suas promessas de ajuda à Ucrânia como resultado.

Em meio às dúvidas, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou nesta quinta-feira que a Europa não tem capacidade de substituir o apoio dos EUA à Ucrânia.

— Claramente, a Europa não pode substituir os Estados Unidos — disse Borrell ao chegar à cúpula, lembrando que a UE está estudando a criação de um fundo de 20 bilhões de euros ao longo de quatro anos para continuar apoiando o exército ucraniano.

Zelensky, no entanto, se mostrou confiante nesta quinta-feira de que os Estados Unidos continuariam a apoiar os esforços de guerra da Ucrânia, observando que as reuniões com Biden e com os membros do Congresso americano no mês passado foram positivas.

Para ele, o "objetivo conjunto" dos que se reuniram em Granada era "garantir a segurança e a estabilidade de nosso lar europeu comum".

"Daremos atenção especial à região do Mar Negro, bem como aos nossos esforços conjuntos para fortalecer a segurança alimentar global e a liberdade de navegação", escreveu o presidente da Ucrânia no X, antigo Twitter. "A principal prioridade da Ucrânia, especialmente com a aproximação do inverno, é fortalecer a defesa aérea."

Kiev já lançou “as bases para novos acordos” com seus parceiros, e está “aguardando sua aprovação e implementação", acrescentou Zelensky.

Espera-se que os líderes da UE discutam a ajuda financeira de longo prazo para a Ucrânia em uma cúpula planejada para o final deste mês em Bruxelas, mas o tópico pode surgir na reunião na Espanha também, disseram diplomatas ao New York Times.

Nesta quinta-feira, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse a repórteres em Granada que o que a Ucrânia precisava era de "previsibilidade e confiabilidade" no apoio orçamentário direto.

— Estou muito confiante no apoio dos Estados Unidos à Ucrânia — declarou. — O que os Estados Unidos estão trabalhando é no momento certo".

A reunião em Granada ocorre em meio a preocupações sobre possíveis fraturas na frente unida da Europa em relação à Ucrânia, já que os governos avaliam os custos econômicos e políticos de fornecer apoio de longo prazo a Kiev.

É apenas a terceira reunião da Comunidade Política Europeia, um encontro pancontinental de líderes de quase 50 países que foi criado após o início da invasão em grande escala da Rússia na Ucrânia em fevereiro de 2022. Maior do que a União Europeia de 27 nações, ela inclui países como a Ucrânia e a Moldávia, que estão impacientes com o longo processo para garantir a adesão à UE. Não é um órgão de tomada de decisões, mas sim um fórum para que os líderes troquem opiniões.

No ano passado, na cúpula, Zelensky pressionou para que a Ucrânia se tornasse membro da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança de defesa ocidental encabeçada pelos EUA.

A União Europeia deu à Ucrânia um caminho para a adesão no ano passado. Mas a adesão é um processo longo e meticuloso, que geralmente leva vários anos, mesmo para nações que não estão em guerra. Espera-se que a UE decida em dezembro se abrirá negociações com Kiev, a próxima etapa do processo e que exigiria o apoio unânime de todos os 27 Estados-membros. (Com The New York Times e AFP)


Fonte: O GLOBO