Decisão do ministro Silvio Almeida de ouvir Defesa antes de instalar novamente o grupo, encerrado no governo Bolsonaro, gera descontentamento entre familiares

A falta de clareza sobre a recriação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, extinta no governo Bolsonaro, está provocando desgaste entre o governo federal e os parentes das vítimas do regime militar (1964-1985). 

A notícia de que, antes de reativar o órgão, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania espera um posicionamento do Ministério da Defesa, irritou ativistas envolvidos no tema.

A volta da comissão, fechada no último dia do governo Bolsonaro, em dezembro do ano passado, apareceu como compromisso no discurso de posse do ministro Silvio Almeida, de Direitos Humanos, em janeiro. 

Havia, entre as entidades de memória e verdade e parentes dos mortos e desaparecidos, a expectativa de que a comissão seria reativada no próximo dia 25, quando se completam 48 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog, no cárcere da Operação Bandeirantes em São Paulo, mas até o momento nenhuma confirmação foi dada por parte das autoridades responsáveis pelo assunto.

—O presidente anterior (Jair Bolsonaro) extinguiu e o presidente atual (Lula) está pedindo ajuda à Defesa? Se a comissão não tem poderes nem sequer para punir criminosos, réus confessos, onde cabe desgaste (com os militares)? Sinceramente, enquanto os familiares não forem ouvidos e respeitados, o sentimento é de descaso e perplexidade. 

O país está sendo conduzido por dois governos, um civil e outro militar — lamenta Diva Santana, irmã de Dinaelza Santana Coqueiro e cunhada de Vandick Coqueiro, ambos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, nos anos 1970.


Fonte: O GLOBO