Presidentes das Casas Legislativas se preparam para fevereiro de 2025, quando deixarão a posição de liderança
Sem a possibilidade de reeleição em seus postos de comando no Congresso, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), têm feito movimentos que indicam caminhos distintos a partir de fevereiro de 2025, quando deixarão os atuais cargos e voltarão à “planície” do Parlamento. De um lado, aliados apontam a intenção de Lira de continuar influente no Legislativo, assumindo posições de destaque na Casa que ele chefia, no primeiro momento, para tentar se eleger senador nas próximas eleições. Do outro, pessoas próximas a Pacheco afirmam que o futuro mais provável para ele é fora do Congresso.
Em comum, a tentativa de manter influência na cúpula do Congresso: Pacheco tem em Davi Alcolumbre (União-AP) seu candidato preferido à sucessão, enquanto Lira busca manter a coesão de um grupo que por ora acena com as candidaturas de Elmar Nascimento (União-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).
No caso do senador, no cenário atual, o mais provável é que ele concorra ao governo de Minas Gerais em 2026. Um sinal da intenção eleitoral de Pacheco foi a recente guinada em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF). Após passar o governo Jair Bolsonaro servindo de anteparo para ofensivas de bolsonaristas contra ministros da Corte — o que incluiu engavetar pedidos de impeachment de magistrados —, agora foi o próprio parlamentar quem patrocinou propostas que miram no Judiciário. Entre elas, a que limita as decisões monocráticas dos magistrados. Com isso, tende a atrair o votos da extrema-direita.
Nos bastidores, políticos experientes atribuem a iniciativa a uma tentativa de Pacheco de neutralizar o desgaste em seu eleitorado pela aproximação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com perfil de centro-direita, ele foi eleito em 2018 em uma chapa adversária à da ex-presidente Dilma Rousseff.
Junto à ofensiva contra o STF, Pacheco tem defendido a tramitação de medidas que se opõem a bandeiras de esquerda, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que criminaliza o porte de qualquer droga no país, tema que está sendo julgado pelo Supremo, e o projeto que estabelece o marco temporal das terras indígenas, considerado inconstitucional pela Corte.
Rotas abertas de Lira e Pacheco — Foto: Editoria de Arte
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, que em 2022 ensaiou lançar Pacheco à Presidência, já disse a interlocutores ver o cargo de governador como um caminho natural para o presidente do Senado. Na avaliação do cacique partidário, a sucessão do atual chefe do Executivo mineiro, Romeu Zema (Novo), ainda está aberta, sem um sucessor natural.
— Ele (Pacheco) está tateando, está botando o termômetro para sentir a temperatura da possibilidade (de se candidatar ao governo). Não é algo que ele conversou conosco, nem definiu, mas ele está medindo a temperatura — disse o ex-deputado Júlio Delgado, que hoje trabalha como assessor parlamentar de Pacheco.
A alguns interlocutores, porém, o senador tratou sobre a possibilidade de deixar a política em 2026. Ele cogita voltar à advocacia e fazer um mestrado. A dificuldade em um estado que no ano passado deu votação expressiva a bolsonaristas como o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) e o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) estaria desanimando o presidente do Senado.
Em outro movimento, senadores aliados tentam convencer Lula a indicar o atual presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, à vaga aberta no Supremo, abrindo caminho para Pacheco assumir seu lugar na corte de contas. A escolha do substituto caberia ao Senado.
Arthur Lira, por sua vez, já disse ter o sonho de trocar o Salão Verde, marca da Câmara, pelo Salão Azul, do Senado, em 2026, seguindo o caminho trilhado pelo pai, o ex-senador Benedito de Lira (PP).
Para isso, o deputado poderá construir uma “dobradinha” em Alagoas com o atual prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), que almeja o governo estadual. A empreitada tem potencial de reviver a disputa regional com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que deve tentar a reeleição no cargo.
Antes disso, porém, aliados dizem que o atual presidente da Câmara dos Deputados pretende construir um acordo para ocupar a presidência da Comissão Mista de Planos, Orçamentos e Fiscalização (CMO) do Congresso em 2025. A intenção é se manter influente na distribuição de recursos públicos via emendas parlamentares. A cadeira, embora não dê visibilidade junto ao eleitorado, lhe garante a possibilidade de capitalizar politicamente obras realizadas com a verba que ele ajudará a partilhar.
O comando da comissão torna-se atrativo caso Lira não seja convidado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a assumir um ministério após deixar a cadeira de presidente da Câmara. Esse cenário é visto como possível tanto por interlocutores do Palácio do Planalto quanto do deputado.
Aliados do petista, contudo, se dividem em relação a esse caminho. Parte deles lembra que, por vezes, Lira travou embates públicos com o Executivo. Por outro lado, o parlamentar é um dos principais líderes do Centrão, grupo político que há anos vem dando as cartas no Congresso, e no governo há uma preocupação em mantê-lo próximo.
Olhando para fora
Com o futuro incerto, o deputado já disse a aliados não descartar nem mesmo um plano de carreira alternativo, fora da política. E, para isso, ele também tem feito movimentações que podem indicar um caminho similar ao traçado pelo seu antecessor na Câmara, Rodrigo Maia, que hoje é presidente da Confederação das Instituições Financeiras.
Nos últimos três meses, Lira participou de ao menos 11 reuniões com lideranças do setor privado, nas quais debateu termos na reforma tributária, votada em julho, e passou a pedir mobilização pela reforma administrativa.
Em entrevista ao GLOBO em abril, Lira deixou pistas de que este pode ser um eventual destino e elogiou os contatos feitos por Maia enquanto presidia a Casa.
— Prezo o seguinte lema: pode perder o poder (depois de deixar a presidência da Câmara), mas não pode deixar de ter influência. Rodrigo Maia, hoje, não tem o poder da presidência, mas goza de muita influência. É representante dos bancos. Fez muitos relacionamentos — afirmou, na ocasião.
Fonte: O GLOBO
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