Alerta israelense na semana passada fez parte da população civil acreditar que o sul seria uma área segura do conflito, mas novos ataques fazem civis reconsiderarem o deslocamento

Embora estime-se que mais de 500 mil civis tenham migrado para o sul da Faixa de Gaza, após o ultimato de Israel para que a população palestina desocupasse a região ao norte do rio Wadi Gaza, as Forças Armadas israelenses continuaram a bombardear a área do enclave que muitos acreditavam ser uma área segura em meio à guerra.

O Ministério do Interior de Gaza afirmou que ao menos 72 pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas em ataques de Israel contra edifícios residenciais em Khan Younis e Rafah, onde grande parte da população que pretende deixar o território palestino em direção ao Egito espera por uma resolução do impasse diplomático.

Os militares israelenses não comentaram diretamente a afirmação do ministério palestino, mas divulgaram que “dezenas de alvos terroristas” em toda Gaza, incluindo Rafah e Khan Younis, foram bombardeadas por aviões de guerra. Também disseram ter matado um chefe de inteligência do Hamas, e que os bombardeios mais recentes tinham como alvo “centros de comando operacional, infraestrutura militar e esconderijos”.

Mulher palestina coberta em poeira e fuligem após bombardeio de Israel — Foto: Mohammed Abed/AFP

As condições no sul de Gaza se deterioram rapidamente, enquanto recursos vitais, como água e comida se tornam escassos em todo o território palestino. O Programa Mundial de Alimentos da ONU informou, nesta terça-feira, que as lojas do enclave só têm estoques de alimento para mais quatro ou cinco dias. Na segunda, a Organização Mundial de Saúde (OMS) disse que Gaza só tinha mais 24 horas de água, luz e combustível.

Autoridades de Gaza também disseram que a estimativa oficial é de que por volta de 1,2 mil pessoas devem estar presas embaixo de escombros de prédios destruídos por Israel, dos quais cerca de 500 devem ser crianças. O Ministério da Saúde de Gaza emitiu uma declaração dizendo ter esperança de encontrar alguns deles com vida.

Palestinos se organizam para tentar retirar vítimas de escombro de prédio em Rafah. — Foto: Mohammed Abed/AFP

Diante do cenário de desalento, com bombardeios constantes e a fronteira com o Egito fechada, algumas pessoas deslocadas estão considerando voltar para o norte, segundo trabalhadores humanitários. Ao The New York Times, Shaina Low, do Conselho Norueguês para os Refugiados, afirmou que "o sul não é seguro”, e que muitas pessoas estão dormindo nas ruas.

Imagens de vídeo após um ataque noturno em Khan Younis pareciam mostrar várias vítimas, incluindo várias que pareciam ser menores, sendo carregadas dos escombros de um edifício. Não ficou imediatamente claro se foi o mesmo ataque que os militares israelenses disseram ter conduzido.

Acredita-se que centenas de milhares de pessoas tenham fugido para o sul de Gaza desde que Israel emitiu ordens aos residentes do norte – cerca de 1,1 milhão de pessoas – para evacuarem a região. Muitos estão agora lutando para encontrar alimentos e água.


Fonte: O GLOBO