Empresário, condenado a 10 anos e seis meses de prisão por estupro, ainda é réu em mais seis ações penais

O empresário Thiago Brennand conheceu nesta quarta-feira sua primeira condenação, pelo crime de estupro a uma ex-namorada americana. A sentença foi de 10 anos e seis meses de prisão, mais o pagamento de R$ 50 mil como indenização por danos morais à vítima.

Preso preventivamente desde abril, depois de ter sido extraditado de volta ao Brasil sob acusações de uma série de crimes contra mulheres, o empresário firmou acordos para encerrar dois processos judiciais: o de um garçom que o acusava por injúria em Porto Feliz e o do caseiro do condomínio de luxo onde Brennand morava, que havia sido ameaçado e chamado de "vagabundo" pelo empresário. Para este, Brennand aceitou pagar R$ 18 mil para encerrar a ação penal.

O empresário enfrenta ainda outras seis ações penais na Justiça. Entenda abaixo cada um dos processos e seu estágio atual.

1. Estupro e cárcere privado

Brennand é acusado por uma ex-namorada de tê-la forçado a tatuar as iniciais de seu nome na costela, além de ter cometido crimes de estupro e cárcere privado. O caso foi revelado pelo “Fantástico”, da TV Globo.

A mulher contou que, no período em que ficou hospedada na casa de Brennand no condomínio de luxo Fazenda Boa Vista, foi obrigada a fazer uma tatuagem com as letras “TFV”, iniciais de Thiago Fernandes Vieira. O suposto crime ocorreu em agosto de 2021.

Em uma manifestação à Justiça, os advogados de Brennand disseram que a tatuagem foi feita com o consentimento dela. Escreveram que “é impossível que a mulher tenha sido tatuada à força, pois conforme se vê nas fotos contidas na própria denúncia, não há qualquer erro, borrão, ou desvio no desenho da tatuagem. Se a mulher estivesse à força efetuando a tatuagem, teria se mexido, efetuado força, o que desenvolveria alguma imprecisão na tatuagem”.

A vítima disse ainda que sofreu agressões e teve um vídeo íntimo divulgado sem sua autorização. A investigação sobre o caso chegou a ser arquivada, mas foi reaberta em 9 de setembro do ano passado, dias após o “Fantástico” exibir reportagem com o relato da mulher. A delegada que havia recomendado o arquivamento do caso, Nuris Pegoretti, é investigada por possível crime de corrupção durante a condução do inquérito.

Esse processo é conduzido pela Justiça em Porto Feliz e começou a ter audiências em julho e ainda está em fase de instrução. Falta ainda a tomada do depoimento de Brennand.

2. Agressão e corrupção de menores

A agressão à modelo Alliny Helena Gomes, ocorrida em agosto do ano passado, foi o caso que deu início à onda de denúncias contra Brennand. Nesse processo, o empresário é acusado de ter praticado crimes de lesão corporal por misoginia e corrupção de menores. As penas somadas podem chegar a oito anos de prisão, sem considerar eventuais agravantes ou atenuantes.

De acordo com o Ministério Público, Brennand havia conhecido Helena na mesma academia onde meses depois viria a agredir a modelo — o momento da agressão foi filmado pelas câmeras de monitoramento do local. O empresário passou a ofender a mulher depois que ela recusou um convite para sair. Em mensagem enviada na madrugada de 24 de maio do ano passado, Brennand chamou a modelo de “alpinistazinha social” e disse que, por isso, a “tratou como lixo”. Alguns minutos depois, a modelo o bloqueou no WhatsApp.

Além de responder por lesão corporal nesse caso, o empresário também é acusado de cometer crime de corrupção de menores por ter induzido o filho, de 17 anos, a “praticar atos infracionais de injúria e ameaça”, segundo o MP-SP. O adolescente estava acompanhando o pai no momento da agressão à modelo na academia. Dois dias depois, em 5 de agosto, o jovem enviou uma mensagem à mulher na qual a chama de “maloqueira” e “fodida na vida”.

O processo é conduzido pelo juiz Henrique Vergueiro Loureiro, da 6ª Vara Criminal da Barra Funda, e está em reta final, faltando para a sentença apenas a conclusão de algumas diligências e o envio das alegações finais por parte da acusação e da defesa.

3. Estupro

Também em Porto Feliz, Brennand foi acusado por uma mulher que disse ter sido obrigada a fazer sexo sem uso de preservativo contra sua vontade quando esteve na casa do empresário no condomínio de luxo.

A mulher declarou que foi convidada por Brennand para fazer uma massagem no dia 31 de março do ano passado. Esperava fazer o serviço na capital paulista, mas Brennand pediu para que ela fosse à sua casa no interior. Foi acompanhada por uma amiga e chegou ao local já tarde da noite, após as 23h.

A mulher relatou que Brennand mostrou a elas sua coleção de armas antes de levá-las ao quarto. “Isso me questionar se ele fez isso por puro ego ou para causar algum tipo de intimidação nas vítimas, já que sua intenção era violentar”, declarou a mulher em depoimento encaminhado ao MP-SP.

Segundo a vítima, Brennand mandou sua colega sair do quarto e, dirigindo-se a ela, pediu para fazer sexo sem camisinha, o que ela recusou. “Ele começou a falar de forma super rude, e seu quarto estava cheio de armas expostas. Ele pediu para que eu deitasse na frente dele, e pediu para eu não ter medo! A essa altura, eu já estava com muito medo. 

Eu estava distante de tudo, ninguém sabia que eu estava ali, só tinha funcionários de anos, aparentemente de confiança dele. Não dava para correr, nem gritar, não dava para fazer nada! Então nesse momento ele abusou de mim. Fez exatamente o que eu não queria, sem meu consentimento, mesmo eu tendo falado que não queria!”, declarou.

Esse processo é conduzido pelo juiz Israel Salu, da 2ª Vara de Porto Feliz, o mesmo magistrado que impôs a primeira condenação a Brennand, por um caso semelhante. A ação está em fase de diligências e alegações finais.

4. Estupro

No Foro Central Criminal da Capital, Brennand responde por acusação de estupro perante o juiz Carlos Eduardo Oliveira de Alencar. A denúncia trata de acusações feitas por uma mulher que teria se relacionado com ele por um período de duas a três semanas entre 2015 e 2016. Segundo a vítima, a primeira relação sexual entre ela e Brennand teria sido consentida, mas em seguida houve "uso de força física, coação e ameaças" do empresário para forçá-la a transar com ele.

"A depoente era obrigada a levantar da sala e ir até o quarto para fazer sexo com ele, sem preservativo, sem que quisesse, mediante uso de força física, porque ele a segurava pelo braço", diz um trecho do processo. A mulher teria sido "constrangida a fazer sexo com ele por diversas vezes, mediante força física, porque ele a puxava pelo braço, deixando marcas, a obrigava à penetração anal a força", destaca outra parte. Segundo a mulher, ela "chegava a chorar durante os atos sexuais".

O processo ainda está em fase de instrução, com a tomada de depoimentos de testemunhas e das partes envolvidas.

5. Estupro

A estudante de medicina Stefanie Cohen, de 30 anos, acusa Brennand por estupro. Em entrevista ao GLOBO concedida em outubro do ano passado, a mulher relatou sua experiência ao cruzar o caminho do empresário:

“(Conheci o Brennand) Num restaurante em São Paulo, em outubro passado (em 2021). Estava comemorando com as amigas (minha vitória), no Miss São Paulo. Ele chegou supercordial. Dois dias depois, me procurou no Instagram e começamos a conversar, me chamou para jantar e foi me buscar em casa. A primeira coisa que me chamou atenção foi a forma como ele dirigia, com imprudência. Quando chegamos ao restaurante, todo mundo o conhecia. Parecia tudo orquestrado. Ele falava alto, passava uma imagem intimidadora. Puxou minha cadeira para perto dele para me beijar. Eu não gosto de ficar beijando em público, então mostrei que não queria. Ele parecia autoritário, mas até então me tratava bem. Até que ele pediu as tais caipirinhas e eu tomei uma. Me lembro de ter ficado tonta e fui em direção ao banheiro, cambaleando. Me escorei na parede. Ele veio atrás de mim, como se soubesse meu estado. Me pegou pela cintura e me levou embora. Não era como estar bêbada, era uma perda total de controle. Minhas pernas estavam fracas. Até então, não fazia ideia de para onde ia. Ele me levou para um hotel”.

No hotel, Stefanie contou que não sabe direito o que aconteceu, nem a ordem dos acontecimentos. “Lembro só das piores partes. Tudo era muito violento, sem preservativo... Eu nunca tinha feito relação anal, e ele me forçou. Lembro de pedir: “não, por favor, não”. Ele dizia: “amorzinho, agora você é minha namorada”. E me estuprou”, relatou.

O processo é conduzido pela 30ª Vara Criminal da Capital e está em fase de instrução. Já foram ouvidas três testemunhas da acusação e uma nova audiência está marcada para o dia 20 deste mês.

6. Calúnia

Esse processo é movido pela advogada e ex-promotora Gabriela Manssur e tramita na 2ª Vara de Porto Feliz. É a única ação ainda em tramitação contra o empresário que não está sob segredo judicial.

A queixa-crime, recebida pela Justiça no dia 5 deste mês, trata de vídeos publicados em outubro do ano passado por Brennand no YouTube, Facebook e Instagram. Nas gravações, denominadas “primeiro pronunciamento”, “segundo pronunciamento” e “terceiro pronunciamento”, o empresário chamava a advogada — que representa algumas das mulheres que denunciaram Brennand — de “babaca” e de “professora do abuso do poder”. Brennand também acusou Gabriela de ter usado recursos públicos em sua candidatura a deputada federal, no ano passado.

O caso está em fase inicial e ainda aguarda a primeira resposta da defesa do réu.


Fonte: O GLOBO