Ex-presidenciável, que está fora dos holofotes desde a última eleição, tem publicado análises, críticas a Lula e Bolsonaro e até vídeo cantando música de Zé Ramalho

Longe do centro do debate político há um ano, quando obteve seu pior desempenho em disputas à presidência ao ficar em quarto lugar, Ciro Gomes (PDT) aposta em canais de comunicação independentes para dialogar diretamente com o público e se reposicionar. 

Desde julho, ele mantém uma newsletter semanal paga, cuja assinatura custa R$ 20 ao mês, e recentemente passou a levar parte do conteúdo escrito para o seu canal no YouTube.

Aos seus 4,2 mil assinantes, Ciro Gomes faz análises sobre o cenário político e econômico nacional e internacional e centra fogo nos adversários. A maioria dos posicionamentos o pedetista já havia expressado durante a campanha eleitoral do ano passado, como as comparações entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu ex-aliado, e o antecessor dele, Jair Bolsonaro (PL).

Na edição mais recente de sua publicação, ele traçou um paralelo de ambos com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o ex-titular da Casa Branca Donald Trump, o candidato à presidência argentino Javier Milei e o senador Sergio Moro, outro alvo frequente do autor da newsletter. De acordo com Ciro Gomes, os cinco têm em comum a “idolatria irracional” e são unidos por um “fio de erros e tragédias humanas”.

Em uma outra ocasião, ao se referir ao aumento das verbas na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), comandada pelo Centrão desde o governo anterior até hoje, o candidato do PDT a presidente derrotado foi irônico. Afirmou que a estatal virou um caixa eletrônico da gestão de Jair Bolsonaro. Em seguida, se corrige ao dizer “ops, do Lula”.

Ciro Gomes também tem criticado algumas das principais apostas da gestão do presidente Lula, como o “Desenrola Brasil”, programa que negocia dívidas dos brasileiros e, segundo ele, é inspirado no plano de governo do PDT. O pedetista também afirma que economia foi entregue a Faria Lima (endereço de grande parte das maiores empresas do mercado financeiro localizado em São Paulo), o orçamento ao Centrão e a agenda identitária ao “esquerdismo infantil”.

600 mil inscritos

Ciro usou a primeira edição da newsletter para reiterar a decisão de não se candidatar mãos. “Por tudo que vivi, perdi o apetite de submeter estas ideias ao embate eleitoral”, relatou. Contudo, ele afirma ainda ter o “direito-dever de cidadão de participar do debate”, o que justificaria a iniciativa.

Ciro Gomes em live apresentado por ele e pela sua mulher Giselle Bezerra — Foto: Reprodução/YouTube

A newsletter tem uma versão reduzida no YouTube, plataforma em que Ciro conta com mais de 600 mil inscritos. Ao lado da mulher, a produtora cultural Giselle Bezerra, com quem apresentava o “Ciro Games” durante a corrida ao Palácio do Planalto em 2022, o pedetista faz um “teaser” do vídeo restrito a assinantes com comentários do boletim.

Na primeira live, em setembro, ele disse que aposta nos brasileiros “independentes, livres, que são capazes de entender as coisas”, e não são “gados nem de um (Lula), nem de outro (Bolsonaro)”. Antes de continuar seu raciocínio, cantou um trecho de “Admirável Gado Novo”, de Zé Ramalho.

Perda de prestígio

Para a cientista política Monalisa Torres, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), o movimento de perda de prestígio tem relação com a forma de poder utilizada pelos irmãos Gomes. No Ceará, os dois se dividiram: Cid ficou com a política interna e Ciro, com a externa.

— O fato de Ciro Gomes não estar ocupando cargo faz com que ele perca a vitrine e a capacidade de articular alianças. O processo de distanciamento da máquina pública e o projeto pessoal de Presidência aliado a um conjunto de outras escolhas que não deram certo, o isolou — analisa a cientista política Monalisa Torres, da Universidade Estadual do Ceará (Uece).


Fonte: O GLOBO