Técnico assinou até dezembro de 2024 em seu primeiro trabalho após a Copa do Mundo

Foram dias de negociação, num desenrolar que já estava desenhado. Mas o torcedor do Flamengo precisou esperar até ontem à noite, momento do anúncio oficial, para ter a confirmação de Tite como técnico do time até o fim de 2024. O trabalho no rubro-negro será o primeiro desde a despedida da seleção brasileira, após a Copa do Catar, no fim do ano passado. E representará uma série de desafios.

“Desejamos um ótimo trabalho a todos e muito sucesso com o Manto Sagrado”, postou o clube nas redes sociais. Junto a Tite, chegam os auxiliares Matheus Bachi, Cléber Xavier e César Sampaio, além do preparador físico Fábio Mahseredjian e do analista de desempenho Lucas Oliveira, que estava no Palmeiras. Eles começam a trabalhar hoje no CT do Ninho do Urubu.

No Flamengo, o técnico terá que reconstruir uma equipe que vem de seis títulos perdidos nesta temporada. E que precisa garantir uma vaga na próxima Libertadores — o rubro-negro é quinto colocado no Brasileiro, com 44 pontos, três acima do Fluminense, primeiro fora do G6. Na próxima etapa da carreira, Tite precisará seguir os exemplos positivos de nomes como Mano Menezes e Felipão, que trilharam caminhos de sucesso no retorno ao futebol brasileiro após a seleção.

Alcançar o cargo de técnico da amarelinha é um privilégio de poucos profissionais na História. Proporcional à honra é a pressão, que tende a tornar incerto o pós. Assumindo o elenco mais forte do futebol brasileiro, Tite tenta ficar do lado mais pesado de uma balança que nem sempre é favorável.

Tite foi anunciado ontem como novo técnico do Flamengo — Foto: NELSON ALMEIDA / AFP

Na prática, dos treinadores que passaram pela seleção brasileira nos últimos 20 anos, os exemplos de maior sucesso são Felipão e Mano — Dunga e Parreira já não engrenaram trajetórias promissoras e duradouras.

Hoje no Corinthians, Mano, de 61 anos, fez o mesmo caminho: assumiu o rubro-negro logo após deixar a seleção. Na época, em 2013, o Flamengo, em cenário muito diferente do atual, vivia momento de austeridade financeira e instabilidade. O trabalho não rendeu, e Mano pediu demissão após 22 jogos. Passou por Corinthians, Cruzeiro e Shandong Luneng-CHI. 

Mas seu trabalho de maior sucesso não seria imediato: viria numa passagem multivitoriosa e de mais de 1.100 dias no retorno à Raposa. Lá, Mano venceu dois Mineiros e foi bicampeão da Copa do Brasil. Ali, voltaria a ser um nome de peso no mercado.

Felipão, 13 anos mais velho, chegou a ir ao Grêmio antes de fazer sucesso pelo chinês Guangzhou Evergrande após a segunda passagem pela seleção, marcada pelo catastrófico 7 a 1 na semifinal da Copa de 2014.

Hoje no Atlético-MG, Felipão passou por Grêmio, Cruzeiro e viveu seu novo melhor momento em 2018, quando conquistou o Brasileirão pelo Palmeiras. Já no Athletico, levou a equipe à final da Libertadores de 2022 e se aposentou momentaneamente para se tornar diretor técnico.

Rostos conhecidos

No Fla, Tite, de 62 anos, reencontrará 11 jogadores com quem trabalhou na seleção: Santos, Rodrigo Caio, Pablo, David Luiz, Filipe Luís, Gerson, Everton Ribeiro, Everton Cebolinha, Bruno Henrique, Gabigol e Pedro — uma relação que, com o contato diário, pode se desenrolar em entrosamento e entendimentos mais claros. O networking pós-seleção também pode ser uma vantagem no mercado.

— Como treinador de seleção, você tem muito mais ausência. Isso dá mais vontade de treinar um clube, onde você tem maior contato com os atletas, tempo de trabalho. É um cenário bem diferente da seleção, onde você passa mais tempo em observações, avaliando, selecionando... 

— argumenta Sebastião Lazaroni, que treinou o Brasil entre 1989 e 1990 e fez longa carreira em times posteriormente. — No clube, você tem que trabalhar com o material humano que encontra, um projeto e um planejamento um pouco diferentes.


Fonte: O GLOBO