Retatrutida, também desenvolvida pela Eli Lilly, levou a uma diminuição de 24,2% do peso corporal em apenas 48 semanas, menos de um ano

Nesta semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do medicamento Mounjaro, da farmacêutica Eli Lilly, no Brasil. Embora destinado para diabetes tipo 2, o remédio é muito utilizado de forma off-label (finalidade diferente da bula) para perda de peso no tratamento da obesidade, já que leva à maior redução entre os fármacos disponíveis hoje.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a Food and Drug Administration, agência reguladora americana, avalia autorizar oficialmente a indicação do Mounjaro a pacientes obesos. O remédio, cujo princípio ativo é a tirzepatida, é como uma segunda geração da semaglutida, presente no Ozempic e no Wegovy, medicamentos da Novo Nordisk indicados para diabetes e obesidade.

Porém, ainda que o Mounjaro nem tenha previsão para chegar ao Brasil, uma terceira geração desses medicamentos já está em desenvolvimento e entrou na última etapa dos testes clínicos no final de agosto: a retatrutida. Além disso, os resultados da segunda das três fases dos estudos já apontaram uma eficácia ainda maior para o emagrecimento.

A diminuição foi de em média 24,2% do peso corporal após apenas 48 semanas de tratamento, cerca de 11 meses e meio. Em comparação, o Mounjaro proporciona uma redução de 20,9% após um ano e cinco meses. No mesmo período, o Wegovy, diminui em 17%.

O que são os medicamentos?

Todos esses remédios fazem parte de uma classe chamada de análogo do GLP-1. São drogas que simulam o hormônio GLP-1 no corpo humano, que, por sua vez, interage com diversos receptores. No pâncreas, isso aumenta a produção de insulina, o que é bom para a diabetes tipo 2. No estômago, reduz a velocidade da digestão da comida. No cérebro, ativa a sensação de saciedade. Esses dois mecanismos levam a pessoa a sentir menos fome e, consequentemente, perder peso.

A semaglutida, do Ozempic e Wegovy, embora não tenha sido a primeira molécula do tipo, foi a que confirmou o alto potencial dos análogos de GLP-1 para redução de peso. O Wegovy, que é a versão destinada oficialmente ao tratamento da obesidade na bula, nem mesmo chegou ao Brasil devido à alta demanda global, embora tenha sido autorizado pela Anvisa ainda no início do ano.

Segundo os resultados dos estudos clínicos publicados na revista científica The Lancet, a semaglutida na dose máxima leva a uma redução de aproximadamente 17% do peso corporal após 68 semanas de tratamento – cerca de um ano e quatro meses. Porém, a tirzepatida, presente no Mounjaro e que começou a ser aprovada pelas agências reguladoras no ano passado, tem potencial ainda maior.

Segundo os estudos SURMOUNT, publicados no periódico New England Journal of Medicine, a perda de peso associada ao Mounjaro após 72 semanas, cerca de um ano e cinco meses, chegou a 20,9%. O acompanhamento com pessoas sem diabetes por até 84 semanas, um ano e sete meses, mostrou que esse percentual pode chegar a 26,6%. Uma cirurgia bariátrica, por exemplo, diminui de 20% a 40% o peso corporal.

Essa eficácia, a maior entre os remédios autorizados hoje pelo mundo, é atribuída ao fato de a tirzepatida ser um duplo agonista, ou seja, simular não apenas o hormônio GLP-1, como também um outro intestinal chamado GIP. Por isso, ela é considerado uma segunda geração dos análogos.

Qual é o remédio mais eficaz?

Agora, a Eli Lilly, mesma farmacêutica por trás da tirzepatida, já está na fase final de desenvolvimento de uma molécula de terceira geração, a retatrutida. Ela é um triplo agonista que, além de simular o GLP-1 e o GIP, atua também no GCC.

— Os agonistas duplos e triplo são o futuro, eles são a grande novidade. Por enquanto, o Mounjaro é o que está mais perto do nosso mercado brasileiro. Mas em um futuro muito breve todas essas moléculas estarão mais disponíveis — afirmou o médico endocrinologista Fabiano Serfaty, doutor pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), em matéria recente do GLOBO.

No final de junho, a Eli Lilly publicou no periódico New England Journal of Medicine os resultados da segunda de três etapas dos testes clínicos com o remédio. Em uma análise que envolveu 338 adultos obesos, ou com sobrepeso e uma comorbidade associada, os responsáveis observaram que a dose máxima do medicamento levou a uma redução média de 17,5% do peso em apenas 24 semanas, cinco meses e meio.

No acompanhamento de 48 semanas, quase um ano, a diminuição foi de 24,2%, superior à proporcionada pelo Mounjaro em 72 semanas. “Acreditamos que a combinação do agonismo dos receptores de glucagon com o agonismo dos receptores GIP e GLP-1 pode ser uma das razões pelas quais a retatrutida mostrou este nível de redução de peso”, disse Dan Skovronsky, diretor científico e médico da Lilly, e presidente dos Laboratórios de Pesquisa Lilly, em comunicado na época.

Além disso, Ania Jastreboff, professora de Medicina e Pediatria, Endocrinologia e Metabolismo na Escola de Medicina de Yale, nos Estados Unidos, que participou do estudo, explicou no comunicado que a eficácia da reatrutida deve ser ainda maior quando avaliada em períodos mais longos.

“Dado que os participantes ainda não tinham atingido uma estabilidade de peso no momento em que o estudo terminou (após 48 semanas), parece que a eficácia total da redução de peso ainda não foi alcançada. Ensaios de fase 3 de maior duração permitirão uma avaliação abrangente da eficácia e tolerabilidade deste potencial farmacoterapêutico para o tratamento da obesidade”, disse.

Segundo o estudo, a retatrutida foi considerada segura, e os eventos adversos mais comuns foram os gastrointestinais, como náuseas, vômitos e diarreias. Eles foram proporcionais à dose, mas na maioria de forma leve a moderada e reduzidos quando o tratamento foi iniciado com dosagens mais baixas. São efeitos semelhantes aos observados no Mounjaro, no Wegovy e no Ozempic.


Fonte: O GLOBO