Parque registra histórico de invasões e ataques contra polícia e fiscais ambientais. Ninguém se feriu neste mais recente ataque.

Porto Velho, RO - Fiscais da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) foram novamente atacados a tiros durante uma fiscalização no Parque Guajará-Mirim (RO), a 206 quilômetros de Porto Velho.

Segundo informações obtidas pela Rede Amazônica, os agentes faziam uma ação de rotina na reserva nesta segunda-feira (4) e quando passavam por uma estrada dentro do parque, tiros foram disparados contra o comboio.

A Polícia Militar Ambiental (PMA), que fazia a segurança dos fiscais, reagiu ao ataque criminoso. Houve uma intensa troca de tiros no local e os agentes da Sedam se esconderam atrás da viatura da polícia.

Ninguém ficou ferido durante o tiroteio e, após os suspeitos cessarem o ataque, os agentes da Sedam foram retirados da área.


Polícia Ambiental reagiu ataque de invasores na reserva — Foto: PM/Reprodução

A suspeita é que os disparos foram efetuados por invasores que desmatam a reserva ambiental.

Como a fiscalização começou?

No início da fiscalização os agentes iniciaram o trajeto andando pela Linha chamada 08, no intuito de localizar e prender os infratores.

Segundo a Polícia Ambiental, a linha 08 é uma estrada rural aberta por infratores interessados em tomar posse da área, que inclusive é alvo de demanda judicial, que determinou a retirada dos invasores e sua "autuação bem como retirada forçada daqueles que permanecessem descumprindo-a.

"Durante a incursão à pé, percorremos cerca de 200 metros pela citada linha quando visualizamos quatro homens saindo da área da mata, cerca de 200 metros a nossa frente. Eles perceberam nossa presença e empreenderam fuga, com isso prosseguimos linha adentro buscando capturá-los", narra o registro de ocorrência da guarnição que estava em ação no Parque Guajará-Mirim.

Enquanto seguiam os suspeitos, os militares notaram que eles empurravam uma moto. "Paramos e fizemos buscas nas proximidades, não prosseguimos em acompanhamento por se tratar de uma área em litígio e haver eminente risco de confronto armado", diz.


Polícia ambiental em ação para combater desmatamento no Parque Guajará-Mirim — Foto: Reprodução

Diante do impedimento para entrar nessa área em que os homens entraram, os policiais e fiscais fizeram buscas na área de mata e localizaram dois capacetes de segurança e outros objetos usados no desmatamento, como foices e motosserras. Durante essa busca na floresta os agentes também encontraram uma motocicleta.

Quando o comboio policial colocava a moto em cima de uma viatura, os agentes viram mais quatro homens saindo de uma área de mata. Os suspeitos perceberam a presença policia em empreengeram fuga.

Segundo a polícia, a guarnição deixou então a moto no carreador, e foi atrás dos invasores. Um dos homens seguiu em fuga pilotando uma outra moto e os outros três adentraram no carreador dentro da floresta.

"Continuamos o acompanhamento, e durante o trajeto percebemos a presença em sentido contrário de aproximadamente oito suspeitos encapuzados, gritando palavras de afronta", descreve o boletim policial.

Alguns desses homens encapuzados estavam armados e então passaram a atirar contra os fiscais da Sedam e Polícia Ambiental. A polícia revidou o ataque com três tiros de fuzil, momento que os suspeitos recuaram e fugiram.

Histórico de ataques

O Parque Guajará-Mirim tem um histórico de invasões e ataques contra fiscais e policiais. Em maio de 2020, agentes da Sedam também foram alvos de uma emboscada feita por mais de 50 pessoas encapuzadas.

Na ocasião, um servidor foi baleado durante um confronto contra os invasores. A troca de tiros durou aproximadamente 15 minutos e o servidor foi baleado no antebraço.

Já em fevereiro deste ano, policiais militares também foram recebidos a tiros durante patrulhamento no Parque Estadual Guajará-Mirim.

Os ataques contra fiscais se tornaram tão frequentes que, no fim de 2021, conselheiros do Parque Estadual Guajará-Mirim pediram que o governo de Rondônia proteja os servidores que atuam no combate de invasões de terra na unidade.

Segundo uma carta feita na época, e enviada ao estado, a ocupação ilegal é uma das principais causas do desmatamento no Parque e uma reintegração de posse imediata é necessária.

Em junho do ano passado foi realizada uma operação para combater a ocupação, comércio e a exploração ilegal de recursos naturais na Zona de Amortecimento do Parque Estadual Guajará-Mirim, conhecida como “Bico do Parque”. Durante a ação foram calculados danos ambientais que passam dos R$ 80 milhões.

Ainda em 2021, o governo estadual aprovou uma lei que alternou os limites e reduziu aproximadamente 220 mil hectares do Parque Estadual Guajará-Mirim e da Reserva Extrativista Jaci-Paraná.

A lei foi considerada inconstitucional pelo TJ-RO. No entanto, durante o período de validade da norma o desmatamento das unidades aumentou consideravelmente, sobretudo no Parque Estadual.

Após a aprovação da lei, o desmatamento na área já chega a 40 km². As duas áreas juntas perderam, até outubro deste ano, 127 km². Quase todo este desmatamento aconteceu depois da aprovação da norma estadual.

A importância do Parque Guajará-Mirim

Criada em 1990, a unidade de conservação (que abrange as cidades de Nova Mamoré e Guajará-Mirim) tinha uma área de 216.568 hectares para serem protegidos pelo poder público.

Ao longo dos anos a vegetação do parque foi se tornando um atrativo no estado, por causa de suas cachoeiras e trilhas verdes, além de ser o abrigo de espécies de animais ameaçados de extinção. Com a "fama" pública, o Parque Guajará acabou sendo o primeiro a ser aberto à visitação no estado, em 2017.

Fonte: G1/RO