Planalto ainda confia em que direita poderá barrar vitória inédita da esquerda no país vizinho e envia missão chefiada por general para estreitar colaboração com administração de Iván Duque

Porto Velho, RO - O governo brasileiro acompanha com atenção e preocupação o cenário eleitoral colombiano. Ciente de que a esquerda poderá vencer as eleições presidenciais de 29 de maio no país, mas confiante em que a direita conseguirá impedi-lo, o governo de Jair Bolsonaro tem buscado melhorar a cooperação bilateral em várias áreas, e para isso enviou recentemente uma missão a Bogotá chefiada pelo general Carlos José Penteado, secretário executivo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disseram ao GLOBO fontes oficiais.

A missão, segundo as fontes em Brasília e Bogotá, foi iniciativa do governo brasileiro. O motivo formal foi a necessidade de melhorar a cooperação nas regiões de fronteira, mas a agenda política colombiana também explica o interesse do Brasil em reforçar laços. Em 27 de abril, um segundo encontro de alto nível será realizado na cidade colombiana de Letícia, na fronteira. Existe preocupação pelo aumento do narcotráfico, do crime organizado e, também, pela tensão entre Colômbia e Venezuela.

Fontes colombianas afirmam que a presença militar russa na Venezuela é expressiva e que teriam a confirmação de que mísseis russos foram instalados na fronteira entre os dois países. Na visita do presidente Iván Duque a Brasília, em outubro, muitos desses assuntos foram conversados e, segundo fontes colombianas, autoridades da Polícia Nacional do país informaram seus pares no Brasil da presença de dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território brasileiro.

Com este pano de fundo, a possibilidade de que esquerda chegue pela primeira vez ao poder na Colômbia começou a ser levada muito a sério pelo Brasil. Depois da eleição de Gabriel Boric no Chile, o pleito colombiano ganhou ainda mais importância para o governo Bolsonaro.

Embora o Brasil tenha enviado o vice-presidente Hamilton Mourão à posse do presidente chileno, em 11 de março, a relação com o Chile esfriou totalmente. Fontes do governo chileno afirmaram que, na reunião bilateral entre Mourão e Boric, o chefe de Estado chileno disse que as diferenças ideológicas entre ambos são enormes, e praticamente deixou em suspenso qualquer possibilidade de cooperação até que seja definida a eleição brasileira.

O embaixador chileno em Brasília nomeado por Boric, Sebastián Depolo, que ainda não chegou ao Brasil, tem vínculos com o PT e outros partidos de esquerda. No ambiente diplomático de Brasília, teme-se o envolvimento do novo representante diplomático chileno na campanha brasileira.

Com a perda do Chile como aliado na região, a Colômbia passou a ser essencial. As conversas bilaterais têm se intensificado, nos níveis político e militar. A visita do general Penteado à capital colombiana, a dois meses para o primeiro turno de uma eleição presidencial na qual o candidato da esquerda, Gustavo Petro, é favorito, mostra, segundo fontes dos dois países, a decisão do governo Bolsonaro de “buscar um estreitamento das relações com o atual governo, apostando numa vitória da direita que garanta a sobrevivência do eixo Brasília-Bogotá”.

Interesse de Bogotá

O governo do presidente Duque está interessado nesse estreitamento e vem buscando ampliar o trabalho conjunto com o Brasil. Uma das demandas que estão sobre a mesa é o desejo da Colômbia de assumir a secretaria-executiva da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), atualmente em mãos da Bolívia. Para os colombianos, disse uma fonte do país, “é muito importante que Brasil e Colômbia tenham uma estratégia conjunta de defesa do meio ambiente”.

A região atravessa uma fase de mudanças, que deverá encerrar-se com a eleição brasileira. Além de novos governos, também surgiram surpreendentes guinadas de política externa, entre elas e com destaque a retomada do diálogo entre os EUA e a Venezuela de Nicolás Maduro, com o interesse de Washington em voltar a comprar petróleo venezuelano.

Em palavras de uma fonte brasileira, “o jogo mudou”. O Brasil de Bolsonaro acompanha com certo estupor algumas dessas mudanças, ainda sem saber muito bem como se posicionar, e a Venezuela é exemplo disso. Neste cenário de incertezas, evitar que a Colômbia passe a ser um território comandado pela esquerda passou a ser prioridade.

Fonte: Agência Brasil