Proposta é de que apenas atletas a partir de 17 anos possam ingressar em competições profissionais

Porto Velho, RO - A polêmica envolvendo a patinadora russa Kamila Valieva, fenômeno de 15 anos flagrada em exame antidoping divulgado durantes os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, pode provocar mudanças profundas na regulamentação da modalidade.

Segundo a agência de notícias AFP, a União Internacional de Patinação (ISU) colocará em votação o aumento da idade mínima para participar de competições profissionais.

A ideia da federação é subir a idade mínima de 15 para 17 anos. A decisão tem forte influência do desempenho de Valieva durante a final individual geral em Pequim, nesta quinta-feira. Liberada para competir mesmo após receber a notícia do exame positivo, Valieva entrou visivelmente nervosa, errou muito e acabou na quarta colocação, sem medalha. A jovem deixou a competição abalada, escondendo as lágrimas.

O episódio gerou críticas do presidente do Comitê Olímpico Internacional (IOC), Thomas Bach. O dirigente ressaltou ter sido "aterrador" assistir ao duro tratamento que a patinadora recebeu de sua equipe após a performance.

— Vê-la tendo dificuldades, como tentava se recompor, finalizar o programa. Dava para ver em cada movimento, na linguagem corporal, sentir que esse é um estresse mental imenso, imenso. Talvez ela preferisse deixar o gelo e esquecer toda essa história — afirmou Bach.

Em e-mail enviado à AFP, a ISU afirmou que não costuma comentar publicamente seus planos, mas abriu uma exceção dada a gravidade da situação. A proposta será apresentada no dia 30 de abril e votada entre os dias 6 e 10 de junho, no próximo congresso da federação. Para entrar em vigor, precisa ser aprovada por dois terços dos 13 membros do conselho.
Entenda o caso

Valieva caiu no doping em exame realizado no Campeonato Russo, em 25 de dezembro, mas o teste só foi concluído na terça-feira passada, um dia depois do show dela na prova por equipes em Pequim, quando a equipe do Comitê Olímpico Russo (ROC) ficou com o ouro. Em meio à polêmica, a cerimônia de entrega de medalhas não foi realizada.

O Comitê Olímpico Internacional (COI), a Federação Internacional de Patinação (ISU) e a Agência Mundial Antidoping (Wada) eram contra sua participação em Pequim depois desse resultado analítico adverso, mas o tribunal antidoping da Rússia permitiu e a Corte Arbitral do Esporte (CAS) concordou em decisão polêmica -- O caso está sob a jurisdição da Rússia porque o teste foi feito pela agência russa, a Rusada.

No entender da corte, Valieva, por ser adolescente, merece um voto de confiança, não ser julgada previamente, até porque testou negativo em Pequim. Pelas regras da Wada, ela não pode, por ser uma adolescente, acabar responsabilizada e a investigação será centrada em seu treinador, médicos e estafe.

Em seu exame, foi encontrado o medicamento trimetazidina, indicado para problemas cardiovasculares. Segundo o jornal The New York Times, outras duas substâncias (Hipoxen e L-carnitina) com a mesma função também teriam sido encontradas na amostra da patinadora.

Mas, essas duas substâncias são permitidas segundo o código da Agência Mundial Antidoping. O jornal explica que Valieva havia declarado que tinha consumido três substâncias em um formulário de controle de doping, enviado com o teste agora reprovado.

Esses produtos, segundo o documento, são L-carnitina, Hypoxen e Supradyn, um suplemento que aumenta a imunidade. A presença de trimetazidina no sistema de Valieva pode ter sido um erro, sugeriram autoridades russas e olímpicas. Mas a descoberta de várias substâncias na amostra de uma atleta de elite, especialmente tão jovem quanto Valieva, foi vista como incomum, de acordo com o jornal.

Fonte: O Globo