Ações contam com agentes da PM e da Civil e contabilizam 32 presos até o fim da amanhã desta quarta-feira. O Morro do Banco e a Tijuquinha também estão com operação em curso

Porto Velho, RO -
Pouco mais de oito meses após a operação mais letal da História do Rio de Janeiro, que terminou com 28 mortos, policiais civis e militares realizam nova ação na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte, na manhã desta quarta-feira.

É a primeira fase do projeto Cidade Integrada, do governo estadual. Ainda durante a manhã, as comunidades da Muzema, da Tijuquinha e do Morro do Banco, na Zona Oeste, também foram cercadas pelos agentes. Até o fim da manhã, 32 pessoas foram presas durante as ocupações.

O porta-voz da PM, o tenente-coronel Ivan Blaz, confirmou duas prisões no Jacarezinho até 8h15m, um assaltante de banco que era procurado e um outro homem, que foi levado para a Cidade da Polícia, após prisão pela Polícia Civil. Duas motocicletas foram apreendidas. Já nas comunidades na Zona Oeste, ao menos 30 pessoas foram presas.

Os criminosos costumam transitar entre as três comunidades e não adiantava ocupar uma e deixar a outra desguarnecida. Todas permanecerão com efetivo das policias — disse Blaz sobre as comunidades na Zona Oeste da cidade, ponto onde a milícia tem ganhado força.

O governador Cláudio Castro classificou a ação como um "grande processo de transformação" em seu perfil no Twitter: "Damos início a um grande processo de transformação das comunidades do estado do Rio. Foram meses elaborando um programa que mude a vida da população levando dignidade e oportunidade. As operações de hoje são apenas o começo dessa mudança que vai muito além da segurança".

Ele afirmou, ainda, que, no próximo sábado, dará detalhes sobre o projeto, que garantiu ser permanente. "No sábado, vou detalhar os projetos que serão iniciados de maneira permanente em duas comunidades. E que servirão de modelo para outros importantes lugares que sofrem com a ausência de serviços e programas que realmente colaborem para melhorar a vida de quem mora nessas áreas", tuitou Castro.


Policiais civis e militares realizam nova ação no Jacarezinho, na manhã desta quarta-feira (19). É a primeira fase do projeto Cidade Integrada, do Governo do Rio, mais de oito meses após a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, que terminou com 28 mortos

O projeto de ocupação do Jacarezinho ocorre no mesmo dia em que o governador Cláudio Castro vai a Brasília tentar reverter com governo federal a rejeição do ingresso do estado ao novo Plano de Recuperação Fiscal. Ainda hoje estão previstas operações em mais comunidades da Zona Norte.

Cerco teve início na noite anterior

Desde a noite de ontem, policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) já cercavam a comunidade para o início da ocupação. Pela manhã, às 5h30m, os policiais civis começaram a deixar a Cidade da Polícia, que fica em frente à comunidade, e entrar pelas vielas. Dezenas de agentes e dois veículos blindados participam da operação, assim como outros veículos. Um helicóptero dá apoio à operação.

— Nesse momento, a ideia é que nós possamos estabilizar o terreno para que outros projetos possam vir acompanhando a segurança. O governador Cláudio Castro vai anunciar detalhadamente esse grande projeto do Governo do Estado no próximo sábado. E a ideia é que nós possamos permanecer aqui sem data para sair dessa região — disse Blaz.

Medo de confrontos

A doméstica Ana Ribeiro se abrigou embaixo de uma marquise no início da operação, com medo de confronto com traficantes.

No ano passado, eu também estava saindo para o trabalho quando teve aquele tiroteio e não quero passar por isso de novo. Tomara que desta vez seja algo mais tranquilo para os moradores.

Por volta das 6h30m, alguns comerciantes começaram a abrir suas lojas, com o cuidado de olhar ao redor. Alguns deles perguntavam a jornalistas e a policiais militares, posicionados na entrada da comunidade, se a situação era tranquila.

"A guerra na comunidade vem da disputa pelo território. Não foi pacificação, foi retomada. A Polícia Civil não será afastada e a PMERJ não ficará isolada. Vai dar certo. O bem sempre vence o mal", escreveu.

No Twitter, a Polícia Militar informou que há segurança reforçada em outras comunidades próximas ao Jacarezinho: "O Governo do Estado inicia uma retomada de território na comunidade do Jacarezinho. Comunidades que estão no entorno também serão ocupadas, como a do Manguinhos, Bandeira II e Conjunto Morar Carioca. Equipes do #COE, da #CPP e de batalhões da capital estão atuando no local".

Como antecipou ao GLOBO, em 26 de dezembro, Castro disse que o plano é "muito complexo". No planejamento estão previstas a instalação de um batalhão de Polícia Militar, na antiga fábrica da GE, um parque esportivo e um espaço de capacitação profissional.

Como parte da estratégia para a região, a nova base para a polícia faz parte da nova política de segurança, na qual é preciso repensar a distribuição do policiamento, feita há mais de 50 anos, quando a mancha criminal era diferente. A expectativa é que o batalhão do Jacarezinho desafogue a unidade do Méier, que atende muitos bairros.

No último dia 10, Castro definiu o "Cidade Integrada" como "ousado", com a entrada de serviços públicos. Na ocasião, em que afirmou que o projeto será lançado no próximo dia 25, o governador disse:

— É um plano muito ousado. A gente está contente de poder repensar a segurança pública, que não é só uma responsabilidade do Estado, já que as fronteiras são atribuições do governo federal, enquanto o município cuida da ocupação do solo.

Tenho certeza que não será como em outras épocas, entrar dando tiro nas pessoas. É entrada de serviços públicos.

Operação na Muzema e na Tijuquinha

Desde as 10h desta quarta-feira, policiais civis e militares também fazem uma operação nas comunidades da Muzema e da Tijuquinha, na Zona Oeste do Rio, dominadas por grupos milicianos e que também vão receber o projeto Cidade Integrada, do governo estadual.

Até o momento, 30 pessoas foram presas na região. O flagrante aconteceu em pelo menos dois prédios irregulares que estavam sendo construídos nas favelas. Profissionais do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) fazem a perícia dos edifícios.

Além de agentes do Comando de Policiamento Ambiental (CPAm), participam da ação agentes da Delegacia do Consumidor (Decon), Delegacia de Defesa de Serviços Delegados (DDSD), Delegacia do Consumidor (Decon), Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) e Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE).

Mais quatro comunidades devem ser incluídas

Outras quatro favelas devem ser incluídas no projeto: Cesarão, Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, Maré e Rio das Pedras. Um dos objetivos do novo projeto é "quebrar" barreiras, integrando bairros formais e informais, com “investimentos em infraestrutura, melhorias de espaços, garantia de acessibilidade, construção e reforma de equipamentos públicos, reforma de unidades habitacionais e ações sociais e de segurança pública, além de projetos que gerem emprego e renda”.

O porta-voz da Polícia Militar comentou a relação que entre os projetos Cidade Integrada e UPP:

— A semelhança guardada entre as duas ações é impossível de ser negada, uma vez que a segurança é o primeiro passo para qualquer ação do governo do estado. Então a estabilização do terreno é fundamental para que outros serviços possam vir.

Estão 1.200 homens e mulheres hoje na região. Não houve registro de confronto. Temos aqui uma ação que tem sido muito positiva até o presente momento, e a ideia é que nós podemos ter resultados operacionais com o passar do tempo.

Quando o projeto foi anunciado, em novembro de 2021, Robson Rodrigues, coronel da reserva da PM e ex-comandante das UPPs, elogiou a iniciativa, mas disse temer que os mesmos erros das UPPs sejam repetidos, como a falta de uma reestruturação das polícias:

— É necessário trabalhar a política de segurança com transparência. Saber quais foram os critérios e os estudos que levaram à escolha dessas comunidades, por exemplo. Quais serão os índices de governança, não só policial, que serão acompanhados para saber se houve êxito ou fracasso? A maior armadilha de um Cercoprojeto como este é ter um apelo mais político que técnico.

Fonte: O Globo