Prefeitura removeu vítimas, mas três grupos permanecem em espaço de parque de exposições
Porto Velho, RO - Com as casas destruídas pelas enchentes da Bahia, 32 pessoas têm vivido em baias usadas para alojar animais no Parque de Exposições de Itabuna (a 431 quilômetros de Salvador).
Na noite de Natal, o espaço chegou a receber 242 pessoas de 82 famílias, segundo levantamento inicial da prefeitura local, que começou a transferir os desabrigados para um alojamento montado no campus da UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia) desde o último dia de 2021.
Passadas três semanas desde o início das enxurradas na região sul do estado, pelo menos três famílias continuam no abrigo, segundo a prefeitura. Entre os remanescentes do alojamento improvisado está o idoso Manoel Souza, 92, pai do autônomo Adalto Souza, 27.
O local foi o único acessível para famílias que ficaram isoladas do restante da cidade, quando o nível do rio subiu repentinamente após as mais fortes chuvas registradas em 54 anos. A maior parte delas vivia em áreas ribeirinhas dos bairros Maria Matos (rua de Palha), Urbis IV e Nova Itabuna.
No mesmo espaço reservado aos animais, quem insiste em permanecer no local precisa conviver com a falta de energia, escassez de água própria para consumo humano, umidade, frio, excrementos de animais, além de pragas como ratos, baratas, pulgas, carrapatos e pernilongos.
Por causa da condição insalubre, sem o devido isolamento térmico, o idoso acabou por desenvolver um quadro de pneumonia, conta o filho.
Antes de buscar refúgio no Parque de Exposições, o pai vivia às margens do rio, em um barraco de madeira que acabou varrido pela enxurrada.
"Ele e meu irmão moravam em barracos de madeira, cada, na beira do rio. A chuva carregou tudo. Só ficaram com a roupa que estava no corpo", ele diz. "Eu só não estou lá com eles porque moro numa parte mais alta da cidade, que não foi afetada pela chuva", continua.
O autônomo relata que a família se recusa a ir para o alojamento na universidade localizada na BR-415, que liga Itabuna a Ilhéus, por causa da distância da sede do município. Além disso, não é permitido que os desabrigados deixem o prédio do campus após as 18 horas.
Apesar de reclamar do mau cheiro de estrume, o que provoca dificuldades para pegar no sono, Márcia Folete também prefere continuar em uma das baias com o marido e o cachorro Bolinha. Ela lembra que era antevéspera de Natal quando foi surpreendida, em casa, pela enchente.
"Quando percebemos, a água já alcançava a altura da cintura. Bolinha pulou o muro e eu só via a cabecinha dele naquele tanto de água. Foi uma coisa cabulosa", lembra. "É muito triste quando você tá quase terminando de construir um sonho e ver tudo no chão", lamenta.
Famílias dormem em baia de animais após perderem casas nas chuvas da Bahia
No mesmo espaço reservado aos animais, quem insiste em permanecer no local precisa conviver com a falta de energia, escassez de água própria Rafaela Araújo/FolhapressMAISSegundo a prefeitura, a cheia do rio Cachoeira devastou cerca de 40% da zona urbana do município, o que atingiu cerca de 30 mil pessoas, 2.800 delas diretamente. Atualmente, 531 estão em 11 abrigos, como escolas, igrejas e a universidade.
Os imóveis onde moravam foram alagados após temporal elevar em nove metros o nível do rio Cachoeira.
A prefeitura afirma que já conseguiu transferir 129 famílias para a UFSB, mas que, apesar dos apelos da administração local e da secretaria estadual da saúde, devido à insalubridade e ao risco de zoonoses, os remanescentes não querem se adequar aos horários estabelecidos pela universidade.
Apesar da recusa das famílias em abandonar o alojamento precário, três refeições diárias têm sido fornecidas pelo município, segundo o Executivo local.
Nesta sexta-feira (7), o prefeito Augusto Castro (PSD) regulamentou a lei para definir os critérios para concessão do Auxílio Recomeço e Aluguel Social às famílias desabrigadas, nos valores de R$ 3.000 e R$ 485, respectivamente.
De acordo com os dados mais recentes da Sudec (Superintendência de Defesa Civil da Bahia), 175 dos 417 municípios baianos foram afetados pelas enchentes. Deste total, 164 tiveram que decretar situação de emergência por causa das chuvas.
Com 26 mortes em todo o estado –dois deles em Itabuna–, a Bahia registra mais de 850 mil pessoas afetadas pelas fortes chuvas. Além dos mortos, são 26.534 desabrigados, 61.551 desalojados, 520 feridos e 2 desaparecidos, segundo a Sudec.
Para arrecadar doações para as vítimas das chuvas, a prefeitura de Itabuna disponibilizou o Pix: defesacivil@itabuna.ba.gov.br, da conta-corrente da Defesa Civil, nº 131.740-7, agência 0070-1, no Banco do Brasil.
Doações para vítimas da chuva na Bahia Americanas SA.envia 75 toneladas de mantimentos na ação "SOS Bahia" Divulgação Americanas SAMAIS
Nesta sexta, o Nubank anunciou que fará uma doação de R$ 1 milhão para a organização Ação da Cidadania, que tem arrecadado doações para ajudar as vítimas das enchentes na Bahia. É possível doar qualquer valor por meio do cartão de crédito pelo aplicativo Nubank.
O Corpo de Bombeiros Militar da Bahia está arrecadando donativos para as famílias atingidas pelas chuvas. Segundo o órgão, as doações podem ser feitas nos quartéis espalhados pelo estado.
A OAB-BA (Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia) informou que segue em busca de ajuda para as vítimas. Alimentos não perecíveis, água mineral e itens de higiene e limpeza devem ser entregues na sede da seccional, na rua Portão da Piedade, em Salvador.
A OAB-BA também divulgou em seu site uma lista de outras instituições que estão recebendo doações e transferências de recursos via Pix.
Em Salvador, o shopping Paralela arrecada itens como alimentos, água, material de higiene e cobertores. As doações podem ser feitas no piso L2 do shopping.
Já a rede Cáritas Brasileira e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), da Igreja Católica, realizam a campanha #SOS Bahia e Minas Gerais: Solidariedade que Transborda.
A iniciativa busca arrecadar recursos para a compra de alimentos, água potável, roupas, fraldas infantis e adultas, artigos de higiene pessoal e itens de proteção contra a Covid-19. Os donativos devem ser distribuídos pelas Cáritas Diocesanas situadas próximas às áreas em situação crítica.
As doações podem ser feitas pelas contas da Cáritas Brasileira no Banco do Brasil (agência 0452-9 e conta corrente 50.106-9) e na Caixa Econômica Federal (agência 1041, operação 003 e conta corrente 1132-1). O CNPJ é 33.654.419/0001-16.
A ONG Ação da Cidadania recebe doações de recursos por meio do site da campanha Natal Sem Fome ou via Pix (CNPJ 00346076000173). Os valores servem para a compra de alimentos, conforme a instituição.
O grupo Voluntárias Sociais da Bahia, por sua vez, iniciou no domingo uma campanha de arrecadação de donativos. A mobilização não tem prazo para terminar.
Alimentos não perecíveis, água, roupas e materiais de higiene e limpeza podem ser entregues na sede do grupo, localizada no Palácio da Aclamação, no Campo Grande, em Salvador, das 8h às 20h.
O Instituto Liga do Bem também faz mobilização em apoio às vítimas. Há um ponto de coleta de doações na capital baiana (rua Manoel Antônio Galvão, 25, Pituaçu, Salvador). Repasses de dinheiro são aceitos em conta no Banco do Brasil (agência 2799-5 e conta 33713-7) e via Pix (CNPJ 35.759.019/0001-09).
Além das ações já existentes e tocadas pelo governo da Bahia e por voluntários, empresários também estão organizando a arrecadação de donativos para as famílias atingidas pelas chuvas.
Fonte: Folha de São Paulo
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