O público começa a retornar, criando a oportunidade de encontros in loco e à distância ao mesmo tempo. São os chamados “híbridos”

Porto Velho, Rondônia - A pandemia fez explodirem eventos e atividades online. Sem a possibilidade de encontros presenciais, a saída para as empresas organizadoras foi migrar para encontros virtuais. Desde o início da pandemia, cresceu o número de eventos digitais nas mais variadas áreas.

O movimento se reflete no crescimento de quem fornece tecnologia para essa atividade. Uma das mais conhecidas plataformas do mundo, o Zoom, por exemplo, viu saltar o seu número de usuários. Segundo levantamento do site Backlink.o, o serviço tinha 10 milhões de usuários em dezembro de 2019. Logo após o início da pandemia, em março de 2020, já eram 200 milhões; no mês seguinte, 300 milhões.

Na contramão do crescimento das atividades digitais, os eventos presenciais sofreram com o distanciamento social desde o início da pandemia. Um exemplo são os eventos de marketing digital, tanto no Brasil quanto no exterior. O RD Summit, da empresa de softwares RD Station, é normalmente realizado no segundo semestre de cada ano em Florianópolis.

Em sua última edição, em 2019, recebeu mais de 10 mil participantes, mas foi cancelado não apenas em 2020 como também em 2021. Em seu lugar, está programado para outubro deste ano o RD Hostel, totalmente online.

O futuro dos eventos

Diante de um exemplo como esse, a pergunta que se faz agora é: os eventos online substituirão os presenciais para sempre?

É difícil fazer previsões com alto grau de acerto em tempos de pandemia, mas já existem algumas pistas sobre o assunto. Na última semana de setembro, foi realizado em Cleveland, nos Estados Unidos, a 11ª edição do Content Marketing World, em área similar à do brasileiro RD Summit.

Depois de também ter passado por uma edição 100% online em 2020, o evento americano retomou a edição física neste ano, embora aquém do porte habitual. Se antes havia mais de 4 mil participantes vindos de mais de 70 países, desta vez foram 800, dos quais menos de 20 eram estrangeiros.

Simultaneamente, havia outros mil acompanhando tudo pela internet em tempo real, elevando o número total de espectadores para 1.800.

Talvez esteja justamente aí a resposta para a pergunta: o futuro não está nos eventos online ou nos presenciais, mas nos dois juntos — que já ganharam a alcunha de eventos híbridos.

“Estamos aprendendo a fazer isso. O evento online nos traz um desafio na parte técnica. Mas certamente o formato híbrido veio para ficar. No ano que vem, estaremos novamente com o presencial e o online simultaneamente”, antecipa Stephanie Stahl, gerente geral do Content Marketing Institute, empresa organizadora do Content Marketing World.


Em diversos países, o público tem se mostrado aberto a participar mais de eventos presenciais ou híbridos do que exclusivamente online. 

Dados de uma pesquisa apresentada pelo Statista sobre como serão os eventos no mundo pós-pandemia, com mais de 7 mil respondentes de dez países, mostram essa tendência. 

No Brasil, por exemplo, 59% das pessoas dizem preferir o formato híbrido, enquanto 38% gostam mais do presencial. Somente os 3% restantes ficam com os encontros exclusivamente online.

Em outros países, há variação quase sempre a favor do presencial ou do híbrido. Por exemplo, no Reino Unido, na Alemanha, na Austrália e na França, mais da metade dos respondentes prefere eventos presenciais. 

No Japão, por sua vez, os híbridos são os campeões, com 65% dos votos. Na maioria dos dez países pesquisados, não há mais do que 6% de pessoas adeptas dos encontros exclusivamente digitais. A exceção é a Índia, onde o índice é de 10%.

“O formato online oferece oportunidades excelentes. Por exemplo, nos permite colocar convidados de diferentes lugares para falar ao mesmo tempo. Por outro lado, é muito mais difícil reter a atenção do participante por mais do que duas horas. Basta observar que o próprio cinema, para conseguir reter as pessoas, precisa fazer superproduções milionárias”, compara Denis Braguini, diretor de eventos da RD Station.

Pegando o jeito

Por enquanto, há uma curva de aprendizagem para todos: organizadores, participantes e até para as estrelas do show, os palestrantes.

Andrew Davis, por exemplo, é autor de livros e speaker profissional. Costuma rodar os Estados Unidos e por vezes visita outros países para falar sobre criatividade, comunicação, disrupção e outros temas em alta no momento. 

Antes da pandemia, sua agenda continha, em média, 55 palestras por ano. Agora, os eventos presenciais começam a voltar num ritmo mais lento, mas com uma característica nova: são quase sempre transmitidos ao vivo para uma plateia remota.

“Ainda é muito desafiador falar para os dois públicos ao mesmo tempo — o presencial e o online. Então, eu me concentro em quem está acompanhando o evento presencialmente e apenas dou um ‘oi’ para a câmera em algum momento”, contou ele, durante sua participação como keynote no Content Marketing World.

A aposta no híbrido não se dá apenas por parte dos organizadores. As empresas parecem simpatizar com a ideia. Uma pesquisa do site Bizaboo entrevistou 400 gestores. Resultado: 97% apostam que esses eventos farão parte de suas agendas de 2021 em diante.

Fonte: Época Negócios