Porto Velho, Rondônia - Para construir uma carreira de sucesso na área de tecnologia, muitos profissionais brasileiros visualizavam apenas uma opção: buscar uma posição em alguma empresa de peso nos Estados Unidos ou na Europa ou então conseguir uma vaga em startups de impacto alocadas em centros de inovação como o Vale do Silício.

Porém, com a evolução do ecossistema de inovação nacional, cenário de investimentos globais e surgimento de unicórnios, esse movimento começou a mudar de direção. Hoje, são muitos os talentos expatriados que encontram o caminho de volta às empresas locais.

Foi justamente isso o que aconteceu com Paulo Golgher, atual VP de engenharia de software do Quinto Andar, Rafael Castro, diretor de engenharia de software na mesma empresa, e Caio Gomes, Senior Director de AI Data Science do Nubank.

No caso de Golgher e Castro, eles chegaram ao unicórnio em julho deste ano, após passarem mais de 10 anos no time de tecnologia do Google - grande parte desse período alocados nos Estados Unidos. Segundo os executivos, atuar em uma empresa brasileira de crescimento acelerado, como o Quinto Andar, traz grandes oportunidades de desenvolvimento profissional. Também possibilita construir projetos inéditos para um mercado que demanda cada vez mais inovação.

Formado em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o VP de engenharia de software do Quinto Andar conta que, mesmo fora do país, seguiu acompanhando de perto o avanço do ecossistema brasileiro. 

"Costumo dizer que eu sai do Brasil, mas o Brasil não saiu de mim. Eu sempre quis participar do nosso mercado interno. À medida que este cresceu, essa vontade também aumentou. Nesse processo, me apaixonei pelo Quinto Andar, pela missão, pelas pessoas, pelo potencial", diz Golgher.

O profissional destaca que, quando deixou o país, as companhias daqui não conseguiam concorrer com o que era oferecido no exterior, e acabavam perdendo talentos. Mas, com o amadurecimento do mercado, há oportunidades internas tão interessante quanto as de fora - ou mais.

"Também vejo acontecendo no Brasil o caminho inverso, ou seja, talentos do exterior vindo trabalhar nas empresas brasileiras de tecnologia. Eles enxergam o valor da startup e entendem que são players que estão jogando na arena global", analisa.



Paulo Golgher e Rafael Castro, atuais VP e diretor de engenharia de software, respectivamente, do Quinto Andar (Foto: Divulgação)

Castro, graduado em Engenharia da Computação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também se manteve informado sobre o Brasil enquanto se desenvolvia profissionalmente no exterior: 

"Ajudar uma empresa brasileira a virar uma das maiores do mundo é algo muito atraente. Existiam outras possibilidades interessantes, mas optei pelo Quinto Andar porque eles estão em um momento bacana de crescimento. Me lembra muito o Google na fase em que comecei a trabalhar lá, há 13 anos".

Na visão do executivo, a tendência é que mais profissionais retornem ao país. "O Brasil tem talentos, oportunidades e capital. Mas é preciso que as empresas continuem mantendo essa ambição global", complementa.

Escala global

Longe do Brasil desde 2015, Caio Gomes, que se formou em Física na Universidade de São Paulo (USP), inicialmente atuou na Holanda, na área de machine learning do Booking.com. Três anos depois, foi convidado a ir para a Amazon, nos Estados Unidos, onde passou por diversas áreas, como a Alexa, a assistente virtual da gigante do comércio elétrônico.


No ano passado, começou a pensar em voltar para o país, em grande parte pelo desejo de ficar mais perto da família e dos amigos. Ajudou o fato de que as startups brasileiras estavam começando a se abrir para o mundo. Antes de tomar qualquer decisão, fez uma lista com as três empresas com mais potencial de inovação, nas quais gostaria de trabalhar. O Nubank estava entre elas.

"Eu só voltei ao Brasil quando percebi que poderia trabalhar no Nubank aqui, onde estou desde janeiro como Senior Director de AI Data Science. Finalmente, existe no país um grupo de empresas que estão se voltado para outros mercados, ofertando produtos em escala global, com uma operação mais ágil e um olhar além do mercado interno", indica.

Na visão de Fábio Cunha, co-CEO e fundador da Woke, empresa especialista em recrutamento de alta gestão, o Brasil está se consolidando como um dos principais centros de startups do mundo. "Logicamente, esse cenário de crescimento atrai talentos que desejam voltar ao país. O avanço do ecossistema também permite que a busca pelos melhores talentos se torne global, já que não é necessário o deslocamento de mão de obra", afirma o empresário.

De olho nesse movimento, que deve se intensificar nos próximos anos, a Woke abriu um escritório no Texas, nos Estados Unidos, para identificar e atrair profissionais para companhias brasileiras. Ao mesmo tempo, a empresa também atenderá atender a demanda norte-americana na busca por talentos de outros países.

Para quem quer seguir a mesma trilha de Paulo Golgher, Rafael Castro e Caio Gomes, Cunha faz algumas recomendações. 

"O principal motivador para a mudança deve ser a oportunidade apresentada pela empresa (perfil, desafios da cadeira, perspectivas de aprendizado e crescimento), e não apenas o ecosistema brasileiro. A realidade é que as startups brasileiras estão no mesmo patamar daquelas de outros hubs de inovação no mundo. Ficar por aqui não limita mais a carreira de ninguém."

Fonte: Época Negócios